sexta-feira, 10 de abril de 2009

Do livro do poeta 7


"A Filha da Lua"


Nasceu hoje a saudade-moça.
Em forma de baile, do horizonte desceu.
Imaterial, mas visível em azuis,
No jardim lunar, teu rosto, pousou.
Um século passou nesse sorriso...
Veio, então, a chuva de ouro
E a terra, celestial, aceitou.

Na transparência feliz da Cidade, os sinos...
Suavizando a paisagem, seguem teus passos.
Há nesta hora tanta mansidão
Que a dor de ser se despede entre sedas.
Dança, dança, Filha da Lua, até o fim!
Liberta a música, serva do Tempo,
E vem ser a Musa no Templo do Amor...

Nasce hoje um beijo-criança.
Traz na pele a brisa de pêssegos,
Alegria esculpida em cristal.
Um roçar de asas inicia a dança,
Por simples amizade ao amor:
É a Filha da Lua pássaro breve,
Mas perene seu palácio de gestos.

domingo, 21 de setembro de 2008

Do livro do poeta 6


I – Prelúdio: Entardecer na Cidade Feliz


Sagrado é o instante: pois existe a canção.
Nem de voz, nem de flauta se fez:
Só desta mão pousada no peito,
Sinal inconfuso do anseio.
No adeus ao Sol, qual um pássaro,
Demora-se a esperança do bem.
(Em que tom entardece a Cidade Feliz?)

Sereno é o desejo: pois existe a visão.
A oeste da perda, a leste dessa dor,
Descansa a paisagem-sorriso,
A sul e a norte da separação.
Da alegria de encontros: seus palácios;
Para todas as sedes: suas fontes...
(Em que olhar entardece a Cidade Feliz?)

Suave é o destino: pois existe a cidade-mulher.
De par em par, abrem-se os portões.
São asas prontas ao vôo,
São o vinho e o pão do peregrino.
No horizonte, o ouro envelhece,
No abraço, o mundo remoça...
(No tom de teu olhar, entardece a Cidade Feliz...)

sábado, 26 de abril de 2008

Do livro do poeta 5


A arte de ser


As cores suaves deste “ai...”
Dizem logo não haver lágrima.
De vera ilusão ela tece o dia
E a mesa posta guarda silêncio,
Até que a música diga “sim...”
A moça rara lê mais um livro.
Sendo amor e ideal mais que palavras,
A paisagem do mundo ganha cor
E a vida se mostra a arte de ser.

sábado, 5 de abril de 2008

Do livro do poeta 4



"O espírito da paz"

Agrada nela o passeio da Lua.
É promessa de sins duradouros.
A tristeza dos dias se assenta,
Se cala, à espera, ferida de paz.
Nasce, assim, a primeira canção.
Saltou os montes, à procura, a voz
E nesse encontro o mundo parou.

Certa manhã, o Sol descansou.
Entre nuvens, silente, parando,
Deixou a ela a missão: clarear
Toda alma que buscasse o ser
De luz que no querer se perdeu.
Tantas canções semeou, no olhar,
Que o vento, feminino, acolheu.

Nela a vida é meditação lunar.
Graça de pássaro, veio repousar.
Somada a beldade ao ar de certeza,
O encanto, só espírito, perdura.
Nasce, assim, a sétima canção.
Vestida de pérolas, a moça alvorece
— e o mundo, sereno, vai dormir...

Soneto de Gaspara Stampa (1524-1554)


SONETO CLXVI


Acuso Amor e aquele que amo tanto:
Amor, de me prender com nó tão forte,
Ele, de em vez de vida dar-me a morte
Ao furtar-se de mim por novo encanto.

Depois reflito e aos dois perdão garanto
E a mim mesma me culpo dessa sorte
Pois, sem forças que em meu socorro exorte,
Em mim descubro a causa de meu pranto.

Se um pouco mais tivesse de humildade
Em lugares talvez menos subidos
Poderia esperar maior piedade;

Faetonte, Ícaro e eu, por atrevidos,
— eu no presente, eles na Antigüidade —
Com fogo alto demais fomos punidos.

terça-feira, 11 de março de 2008

Do livro do poeta 3


"A canção de Apolo"

Paz argéntea, halo dourado,
Inscreveu o amor no dia
O signo em fogo da verdade.
Selou, sagrou, salvou.
Singrou os ares o navegante,
Resplandecendo-a toda: a vida.
Suprema, efémera: a dádiva.

Serena em cor e ávida
Do leite e mel em carícia,
Fez assim a canção de Apolo
Do receber e dar a ambrosia
A escorrer fecunda no afeto.
No deserto a flor, no silêncio a voz:
E no mundo o querer, ter e ser.

Tranqüila no diálogo das almas,
A brilhantíssima paixão: só os dois.
E nunca mais são sós...
Corre claro o vinho, partem o pão.
Jorram as notas. Desfeita a névoa,
É fatalmente azul a música:
E a Musa liberta o riso e a si.

sábado, 1 de março de 2008

Do livro do poeta 2


"Sete planetas de luz"

Teu coração, pés sobre o solo:
Escrevendo a raça,
O rosto, o gosto
Duma suave humanidade.
A técnica, o ritmo
Da atmosfera jazz
Marcando pela passagem
Faces famintas de ar.
E é um gesto que traça,
Tanta saudade,
O teu destino clássico:
Do cair de teu corpo
Surgem, aqui e ali,
Desafios de dança,
Sete planetas de luz.
Reggae, blues
Gospel, soul
Samba, funk
Jazz.
Abraços de eternidade.




(do livro Oceano dos meus dias)